domingo, 11 de março de 2012

Ítaca- Konstantino Kavafis

Quando você partir, em direção a Ítaca,
que sua jornada seja longa
repleta de aventuras, plena de conhecimento.

Não tema Laestrigones e Cíclopes
nem o furioso Poseidon;
você não irá encontrá-los durante o caminho,
se você não carrega-los em sua alma,
se sua alma não os colocar diante de seus passos.

Espero que sua estrada seja longa.
Que sejam muitas as manhãs de verão,
e que o prazer de ver os primeiros portos
traga uma alegria nunca vista.
Procura visitar os empórios da Fenícia
e recolha o que há de melhor.
Vá as cidades do Egito,
e aprenda com um povo que tem tanto a ensinar.

Não perca Ítaca de vista,
pois chegar lá é o seu destino.
Mas não apresse os seus passos;
é melhor que a jornada demore muitos anos
e seu barco só ancore na ilha
quando você já estiver enriquecido
com o que conheceu no caminho.

Não espere que Ítaca lhe dê mais riquezas.
Ítaca já lhe deu uma bela viagem;
sem Ítaca, você jamais teria partido.
Ela já lhe deu tudo, e nada mais pode lhe dar.

Se, no final, você achar que Ítaca é pobre,
não pense que ela lhe enganou.
Porque você tornou-se um sábio, e viveu uma vida intensa,
e este é o significado de Ítaca.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A Verdade Dividida- Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

A verdade dividida


A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Te amo Jonh Lennon- Octavio Ocampo

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mulher no espaço

"Mulher no Espaço"-
Raquel Sabota


Me deixo seduzir
pelas ideias...
pelas pessoas...
pelos aromas...
pelos odores...
pelas cores...
pelas formas...
Que me libertam!




"Mulher no espaço" - Eli Heil

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Kitsch


Por Raquel Sabota

Inspirada na estética do documentário do apresentador Abelardo Barbosa (o vulgo Chacrinha) numa das reuniões de formação de professor na Escola Sarapiquá, surgiu o desejo de experimentar, de fazer, de refletir e questionar o que é brega?? O que é ser cafona??? Porquê os rótulos???? Será que não é uma questão de perspectiva, de ponto de vista, ou seja, de multiplicidade de olhares???E o “cafona” se vê como cafona?? Ou será que cafona somos nós perante o olhar dele??
“Se o apolíneo se fecha em sua perspectiva, o dionisíaco abre-se a outras, daí estar mais próximo do perspectivismo, essa teoria do conhecimento do Nietsche que busca significados profundos pela multiplicidade de olhares sobre uma mesma coisa” (Claret, Martin, Para além do bem e do mal, Nitzsche,2008,p.12).
Partindo desse princípio veio a seguinte questão: Como articular esses questionamentos sobre a figura do Chacrinha com o conhecimento de artes? Imediato veio essa confirmação: O Chacrinha é Kitsch! Esse termo kitsch é utilizado para designar o “mau gosto” artístico e produções consideradas de qualidade “inferior”, utilizo os termos “mau gosto e inferior” com todo o respeito e sob outra perspectiva, a perspectiva do interessante e do provocativo, não desmerecendo o significado dessa tendência. É de mau gosto, porque não está dentro de padrões estabelecidos pela nossa sociedade? O conceito de Kitsch aparece no vocabulário dos artistas e colecionadores de arte em Munique, em torno de 1860 e 1870, com base em kitschen, [atravancar], e verkitschen, [trapacear] (vender outra coisa no lugar do objeto combinado), o que denota imediatamente o sentido pejorativo que o acompanha desde o nascimento. O nascimento do Kitsch é localizada no romantismo pela ênfase observada na expressão dos sentimentos e das emoções (quem nunca viu o pingüim em cima da geladeira das casas das avós, os bonecos dos sete anões nos jardins da casa, objetos pendurados no espelho do carro, o kichute, a conga, foto antiga do casal pendurada na parede, certificado de curso pendurado na parede, coleção de souvenirs-adoroooooooo) o que na literatura, por exemplo, toma forma do melodrama e da literatura popular, quer exemplo melhor que aqueles romances de livraria: Sabrina. Negação do autêntico, cópia e artificialidade são os significados freqüentemente associados aos objetos e produções kitsch, encontráveis tanto nas artes visuais, na literatura e na música, quanto no design e na profusão de produtos que cercam o cotidiano: souvenir turístico, miniatura, adorno, objetos de decoração e devoção, talismã religioso e muitos outros objetos e elementos decorativos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Potência da Arte

Madame Flores- Eli Heil

Parágrafos do texto: Por uma educação potente- Portal Cronópios
Por Eliana Pougy

Para Deleuze e Guattari (2000), as imagens do pensamento podem se materializar tanto em conceitos filosóficos, como em teorias científicas e em obras de arte porque o pensamento possui três planos de criação: o plano de consistência da filosofia, que cria conceitos, o plano de referência da ciência, que cria teorias, e o plano de composição da arte, que cria obras de arte. Esses três planos, ao invés de separados, estão em constante inter-relação, em constante troca. Além disso, aos três planos se contrapõe um plano desestratificado, formado por fluxos, o quase-caos (DELEUZE, GUATTARI, 2000).
Entre as imagens do pensamento, uma obra de arte pensa através de perceptos e afectos. Perceptos e afectos são percepções e afeições arrancadas de um objeto ou um sujeito percipiente, são paisagens, rostos, devires. Uma obra de arte é um ser de sensação, é a criação de uma forma conceitual, visual ou existencial que possibilita a materialização daquilo que está em germe no Sensível. Ela é uma passagem para o sensível.
Um artista, um ser da expressão que se atualiza ao criar uma obra de arte, não é aquele que está doente ou está possuído por uma psicose, não é ele quem precisa ser analisado. Pelo contrário, ele é um sujeito coletivo que viu demais e tornou visíveis os sintomas de uma sociedade. Ele cura os males do mundo pelo rompimento com os sistemas de controle da linguagem, pela destruição de regras sintáticas e gramaticais e por tornar atuais os enunciados virtuais que existem potencialmente no ruído da linguagem maior. Por tudo isso, Deleuze afirma que a Arte é a nossa Saúde, e o artista, o nosso médico, mas também o nosso pervertido, porque ele subverte a linguagem (DELEUZE, 1997).
Quando uma obra de arte é criada, surge uma figura estética, pura potência de afectos, que foi percebida pelo artista. Essa figura, que devém metamorfoseada em símbolo, age no mundo da obra. Ela é um devir sem rosto que formula enunciados virtuais e que faz parte de um povo fraterno e sem história, ainda por vir. Ela é sempre um combate, um jogo de forças, um tudo de vontade, mas não é uma guerra. Uma figura estética não é uma vontade de destruição, nem um juízo que converte destruição em “justiça”. Ela é um combate porque é uma poderosa vitalidade não-orgânica que completa a força com a força e enriquece aquilo de que se apossa. Ela é um centro de metamorfose. Uma figura estética é sempre cruel, embriagada, vital, potente (DELEUZE, GUATTARI, 2000).

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Mário Cravo Neto


Mario Cravo Neto, Eduardo with dagger (1990), cm 100x100


Galeria Virtual-Foto-Mario Cravo Neto

Autores: Mario Cravo Neto: Pelourinho - Coleção Pirelli / MASP de ...


MARIO CRAVO NETO
Mario Cravo Neto nasce em 20 de Abril de 1947 na cidade do Salvador, Bahia, onde hoje vive e trabalha. Em 1964, aos 17 anos, muda-se para a Alemanha, quando seu pai, o escultor Mario Cravo Jr., participa do programa Artists in Residence, em Berlim. É naquele período que Cravo Neto dá início as suas experiências com escultura e fotografia. No ano de 1965 retorna ao Brasil, é premiado na I Bienal de Artes Plásticas da Bahia e, ainda naquele ano, faz sua primeira exposição individual. Entre 1968 e 1970, vive em Nova Iorque, onde estuda na Art Student League, sob a orientação do artista plástico Jack Krueger, um dos precursores da arte conceitual. Em 1970 publica sua primeira fotografia fora do Brasil no catálogo da exposição Information, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Ainda em Nova Iorque produz a série de fotografias em cores intitulada On the Subway, publicada na revista Camara 35, e fotografias em preto-e-branco que abordam o aspecto da solidão humana na grande metrópole. É em seu estúdio no Soho que desenvolve, paralelamente à fotografia, as esculturas em acrílico baseadas no processo do “terrarium”, envolvendo o crescimento de plantas vivas em ambientes fechados. Na XI Bienal Internacional de São Paulo, em 1971, em sala especial, apresenta pela primeira vez a instalação das esculturas vivas produzidas em Nova York e recebe o Prêmio de Escultura Governador do Estado de São Paulo. Durante os anos de 1971 a 1974, dedica-se à criação de projetos “em sítio” (land art), interferindo diretamente na natureza do sertão baiano e no perímetro urbano de sua cidade natal. A documentação sistemática desses trabalhos lhe proporciona intimidade com a linguagem cinematográfica. É nesse contexto que realiza diversos curtas-metragens e que, em 1976, recebe o Prêmio Nacional da Embrafilme, pela direção de fotografia do longa-metragem Ubirajara, do diretor André Luis Oliveira. Em razão de um acidente automobilístico, em 31 de março de 1975, é forçado a permanecer com ambas as pernas imobilizadas por um ano. Esta circunstância, porém, não interrompe sua produção. Nesse período trabalha em maquetes de seus projetos tridimensionais e volta a sua atenção para o retrato em estúdio, para a apropriação de objetos e para a utilização desses objetos em suas instalações e nas composições das fotografias. Surge assim um trabalho único, autoral, no qual Cravo Neto cria, a partir da integração que promove entre personagem e objeto, o que podemos chamar de fotografias-esculturas em preto-e-branco. São dessa fase o Ninho de Fiberglass, 1977, e Câmaras Queimadas, 1977, criações emblemáticas, expostas respectivamente nas XIV e XVII Bienal Internacional de São Paulo. Essas obras são mais tarde comentadas por Edward Leffingwell, no prefácio do livro The Ethernal Now, 2002, a mais completa monografia de Mário Cravo Neto, contendo 136 fotografias em preto-e-branco em estúdio. Nas palavras de Lefingwell, “o elo principal dentre os projetos citados, as instalações que se seguiram e as fotografias que o tornaram conhecido, foi a apresentação de um translúcido ninho feito com filamentos de fiberglass, catados por algum arquiteto desconhecido: uma ave da vizinhança de seu estúdio na Cidade do Salvador

www.cravoneto.com.br